Algumas pesquisas sugerem que as mulheres possuem cerca de 40% de chance maior de sofrer algum transtorno mental do que o homem. As causas vão desde aspectos biológicos, como, mudanças hormonais nas diferentes fases da vida, à ambientais, como, mudanças nos papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade contemporânea. Consequentemente, o público feminino lidera a busca por tratamentos. No geral, os homens são mais afetados por condições que incluem o abuso de substâncias e transtornos de conduta. De qualquer forma – e para além um diagnóstico psiquiátrico fechado – existem outros sintomas e dificuldades que os homens vem enfrentando e que não devem ser negligenciados.
De acordo com a minha experiência como psicóloga clínica, tenho percebido um aumento do público masculino por tratamentos como a psicoterapia. Avaliando esse quadro e as diversas demandas que tenho atendido, percebo que existem alguns aspectos relevantes na vida do homem, e que podem naturalmente contribuir para o surgimento de dificuldades de cunho emocional e psicológico e/ou desenvolvimento de transtornos mentais:
Mudanças nos papéis masculinos:
Assim como a mulher, que hoje em dia precisa dividir sua rotina entre a família, o trabalho, e os afazeres sociais e pessoais, o homem também vem tendo que lidar com essas questões. Se a mulher ao longo dos anos deixou de ser apenas cuidadora do lar e lutou para conquistar seu espaço e se tornar provedora, o homem também precisou adquirir outras funções, que demandam dele novas habilidades. Ao mesmo tempo que a mulher foi deixando o lar e os filhos, o homem precisou estar mais presente nesse contexto, o que exige dele sensibilidade e cuidado para lidar com os filhos, além de preparo emocional para educá-los e para aprender a gerir o lar (habilidades que antes eram exigidas apenas das mulheres). Além disso, no mercado de trabalho o homem agora passa a competir com a mulher de “igual para igual”, o que exige dele maior desempenho, mas principalmente aceitação de que seu gênero não é mais, necessariamente, sinônimo de sustento e proteção. Percebo que a inversão de papéis tem gerado nos homens sentimentos de culpa, impotência, medo e desamparo.

Histórico de aprendizagem:
Da mesma forma como existiam diferenças maiores entre os gêneros e os papéis que cada um desempenhava, a educação de meninos e meninas ocorria de maneira distinta. Certamente as meninas eram desde pequenas treinadas para serem cuidadosas, atentas às necessidades dos outros, afetuosas e eram mais instigadas à expressão no geral. Obviamente essas eram habilidades que elas precisariam futuramente para cuidar de seus filhos, marido e para construir um lar confortável e harmonioso. Por outro lado, os meninos eram ensinados a ser práticos, objetivos, analistas e planejadores. Habilidades essas extremamente importantes para sobreviver no mundo dos negócios. Não é difícil chegar à conclusão de que o resultado disso são mulheres com desenvolvimento emocional maior e homens racionalmente mais bem preparados. Apesar da educação contemporânea ser mais igualitária, ainda convivemos com muitos homens que foram pouco treinados para desenvolver sua inteligência emocional. Percebo na prática clínica que essa é uma das razões pelas quais o autoconhecimento dos homens no geral é deficitário, o que pode acarretar em problemas e sofrimento em todas as áreas da vida.

Gostaria de deixar esse texto com um incentivo aos homens à busca de tratamentos como a psicoterapia. Afinal, independente dos aspectos que contribuíram para ser quem você é hoje, o que de fato importa é que adquira as habilidades necessárias para viver satisfatoriamente em todos os contextos da sua vida!
Gabriele Lederer – Psicóloga
Atendimento em Curitiba – Batel – E online durante o período de isolamento sugerido pelas autoridades de saúde.