Ultimamente, tem me chamado atenção, a quantidade de pessoas que tem chego até mim e, já na primeira sessão relatam que foram diagnosticados com TPB. Logo após, geralmente o relato seguinte é “e não tem cura”. Percebo o quanto, receber esse diagnóstico assusta as pessoas e as deixam desmotivadas. Eu, particularmente, me sinto triste nessa hora, pois estou ali, justamente porque acredito no ser humano funcional, satisfeito, feliz e “curado”.
Gostaria de dedicar esse texto, para fazer algumas reflexões a respeito da “cura” do TPB. O intuito não é fornecer uma resposta definitiva, mas sim, oferecer um material reflexivo, para que o leitor chegue a sua própria conclusão. Lembrando que, o objetivo do texto também não é contradizer convenções e opiniões médicas e científicas, pois, acredito que, cada área possui um olhar distinto sobre os diferentes aspectos do TPB, e que podem se complementar.
Primeiramente, gostaria de falar brevemente sobre o significado da palavra “cura”. A cura, origina-se da palavra CURA no latim, que significa “ato de cuidar, de vigiar”. Referindo-se especificamente à área da saúde, utilizamos o termo “cura” para dizer que encontrou-se uma solução para recuperar a saúde de alguém que estava doente. Quando pensamos no termo “solução”, está implícito que se refere a algo definitivo e que não retornará mais.
Eis aqui o primeiro ponto de reflexão: Quando retornamos ao significado real da palavra, ou seja, “ato de cuidar”, obviamente chegamos à conclusão de que toda e qualquer condição ou enfermidade tem cura, pois pode ser cuidada. Porém, quando nos deparamos com o uso coloquial da palavra, que sugere “solução definitiva”, o cenário muda e chegamos ao segundo ponto da reflexão sobre em quais contextos isso pode aplicado o conceito de “solução definitiva”?
Quando aplicado ao contexto médico, conseguimos mais facilmente discernir as doenças que tem cura daquelas que não tem. Por exemplo, a gastrite tem cura, pois uma vez que é realizado o tratamento adequado, ela cessa/desaparece. Por outro lado, a AIDS não tem cura, pois, uma vez o vírus presente no corpo, ele não deixa de existir, mas é possível realizar tratamentos que retardam sua ação no organismo. Isso quer dizer que, na medicina existe um marcador claro sobre o fator que define se algo tem ou não cura.
Quando aplicado ao contexto da psicologia e da saúde mental, costumo utilizar a analogia de que nem sempre “1+1 é = 2”. Isso quer dizer que, quando falamos em cura, dentro da psicologia, fica implícito que a mesma depende de uma série de variáveis para ocorrer. Darei um exemplo: imagine um empresário, que precisa viajar praticamente toda a semana, mas que apresenta extrema ansiedade para viajar de avião. Ele pode ser curado da ansiedade? Veja, o que pode acontecer é ele se submeter a um tratamento específico que faça com que ele diminua a ansiedade nas viagens, a ponto de que ele consiga ser funcional em sua vida e não sofrer mais tanto nessas situações. Agora, dizer que ele nunca mais sentirá ansiedade alguma em sua vida, não existe! Mesmo porque, deixar de ter emoções é impossível. Logo, podemos dizer que ele foi curado da ansiedade extrema em situações de viagem, mas não foi cortada toda e qualquer possibilidade dele se sentir ansioso em qualquer outro momento/contexto da vida.
O mesmo se aplica ao TPB. Entendo que, às vezes, nesse caso, fica mais complexo pensar na possível “cura”, por se tratar de uma condição na qual existem vários e intensos sintomas. É verdadeiro que, uma das causas do TPB, é fisiológica. De qualquer forma, sabemos também da condição de neuroplasticidade do cérebro, que permite com que as mudanças nos nossos comportamentos causem mudanças cerebrais. Sendo assim, gostaria de finalizar o texto com algumas perguntas para reflexão: se conquistar a regulação emocional é possível, se diminuir as crises de raiva/tristeza/ansiedade, é possível, se modificar hábitos não saudáveis é possível, se adquirir habilidades de relacionamento é possível, se construir comportamentos que permitem construir uma vida que vale a pena ser vivida, é possível….seria possível “curar” o TPB?
CRP-PR 08/19451
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