Muitas vezes, quando conto para as pessoas que trabalho com pacientes de risco, que apresentam crises suicidas e comportamentos autolesivos, elas me perguntam o que leva uma pessoa a querer acabar com a sua própria vida. Confesso que, quando me deparo com essa pergunta, a primeira coisa que passa brevemente pela minha cabeça é “nossa, mas os motivos são óbvios”, mas logo em seguida me lembro de duas coisas: 1) A pergunta de fato é complexa – e a resposta também; 2) Para mim é mais fácil entender esses motivos, pois trabalho com essas demandas a anos e aprendi a desenvolver empatia profunda por pacientes com potencial risco suicida.
De qualquer forma, resumidamente, a resposta para essa pergunta é: uma pessoa passa a não querer mais viver porque a vida ficou tão difícil – insuportável, na verdade – que o único alívio que se poderia pensar seria a morte. Para ilustrar isso, uma vez uma paciente me disse que tinha a sensação de que “a cada respirada, parecia que alguém lhe apunhalava o coração”. Então, não é à toa que alguém passa a não querer viver mais. Na verdade, esse desejo é o resultado de um intenso sofrimento.
Tendo isso, você deve estar se perguntando sobre o que pode causar tanto sofrimento? O que torna a vida de alguém tão difícil assim? Obviamente que, cada caso é um caso, que os fatores que motivam uma pessoa para a vida não são os mesmos que motivam a outra. Mas, no geral, consigo fazer uma breve descrição sobre alguns dos elementos que normalmente NÃO encontramos na vida dos que sofrem intensamente:
- Relacionamentos e rede de apoio satisfatórios: Esse item representa muito mais do que apenas ter família e um grupo de amigos. Significa ter pessoas nas nossas vidas que nos acolhem emocionalmente, nos ajudam, incentivam, validam nossas emoções e nossos pensamentos e que nos ensinam como podemos lidar com as dificuldades. Na maioria das vezes, a vida não faz sentido quando nos sentimos sozinhos – mesmo que seja uma solidão emocional. “Não ter para onde correr” ou então “Correr para algum lugar que só dá pancadas” torna a vida extremamente difícil. Por diversos motivos, pessoas que relatam não querer viver mais, não possuem em suas vidas, relacionamentos de qualidade.
- Senso de competência: A necessidade de nos sentirmos úteis, “bons em algo” e capazes, é universal e é o combustível nosso de cada dia. Importante mencionar que, aqui, não me refiro somente à área profissional, ou seja, a encontrar um emprego/ocupação satisfatório. Sentir-se competente vai muito além disso. Eu posso me sentir competente, por exemplo, pelo fato de manter minha casa minimamente arrumada, tomar banho todos os dias e fazer minha atividade física, ou até, por muito menos do que isso. Pessoas que sofrem intensamente, com frequência, possuem muita dificuldade para construir uma vida na qual possam sentir-se competentes.
- Capacidade de enfrentamento e solução de problemas: Independente do estilo de vida que se leva, a vida, no geral é recheada de pequenos ou grandes desafios. Eu costumo falar que “viver é caminhar em uma enorme corda bamba, que horas balança muito e, horas permanece estática e, que inclusive pode alternar os dois modos rapidamente. Nisso, o mais importante é continuar caminhando, independente do que aconteça”. Ou seja, caminhar em uma corda bamba requer enfrentar os problemas que a instabilidade traz consigo, sem parar ou desistir. Pessoas que, por quaisquer que sejam as razões, paralisam frente aos problemas, não conseguem construir uma vida satisfatória.
É importante mencionar que existem vários motivos pelos quais uma pessoa pode não ter esses – e outros – elementos em suas vidas, e, mais importante ainda é não julgá-los. Sempre tenha em mente de que, se alguém não possui uma vida da qual goste, é por que algo muito grave tem ocorrido, a ponto de fazer com que essa pessoa não conseguiu construir uma vida que vale a pena ser vivida.
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