Quando uma pessoa sofre intensamente, independentemente do tipo de sofrimento – mas nesse texto quero falar mais especificamente do sofrimento emocional – ao lado dela, sempre há outras que sofrem junto. O sofrimento de quem cuida é pouco abordado e reconhecido. Mesmo porque, o comportamento de cuidar é culturalmente visto quase como se fosse uma “virtude soberana”, mas, ao mesmo tempo, algo implícito, que “precisa acontecer” e, por isso, nem sempre é elogiado e reconhecido. Dessa forma, o cuidador, por acreditar que precisa estar nesse papel e que essa é sua função, muitas vezes, sofre em silêncio.
Apesar desse texto servir para todas as pessoas que ocupam algum papel de cuidador, nesse momento, gostaria de dedica-lo mais especificamente para todas as mães que cuidam de filhos que apresentam um sofrimento emocional intenso. No meu cotidiano de atendimento a pessoas que sofrem intensamente, percebo o quanto as famílias – principalmente as mães – não abdicam de esforços para o bem-estar dos filhos e, isso custa um preço emocional elevado. Na medida do possível, procuro sempre orientar e acolher essas mães, porém, existe uma limitação ética e pessoal para isso. Contudo, gostaria de deixar aqui algumas dicas que podem surtir um efeito emocional positivo para essas mães:
– Saia do contexto de sofrimento: Muitas mães sentem que o filho em sofrimento não ficará bem na sua ausência, mesmo que ela seja por apenas alguns minutos. Esse sentimento é perfeitamente compreensível, dado o histórico do sofrimento do filho e da relação de ambos. De qualquer forma, estar o tempo todo ali, adoece quem cuida também. Não há como viver em um contexto de sofrimento e permanecer bem sempre. Para tornar isso minimamente possível, são necessárias as famosas “válvulas de escape”. Isso envolve viver coisas que não estão relacionadas a maternidade e ao cuidado. Isso envolve resgatar sua individualidade e talvez lembrar de quem você era quando ainda não era mãe; do que gostava, como pensava e quais coisas planejava. Ser mãe é apenas um papel – muito importante sim – na sua vida. E você pode e deve ter outros papéis, como o profissional, social, afetivo, entre outros.
– Aprenda a reconhecer seus sentimentos e a lidar com a culpa: Cuidar de quem sofre emocionalmente exige muito autocontrole emocional. Além disso, é comum a autoinvalidação, ou seja, “não quero demonstrar meus sentimentos para não causar ainda mais sofrimento ao filho”. O não reconhecimento dos próprios sentimentos pode gerar descontroles emocionais, pois, “quanto mais eu guardo e engulo, mais o copo vai enchendo, até que uma hora ele transborda”. E quando ele “transborda”, eu me sinto culpada. Reconhecer e verbalizar seus sentimentos faz bem para você e para seu filho. De qualquer forma, não há cuidado perfeito. Em algum momento você cometerá erros e, pode até ser que se descontrole emocionalmente. Automaticamente você sentirá culpa e, isso não há como evitar. Mas, você não precisa se “massacrar” quando isso acontecer. Procure ser gentil e leve consigo mesma nessa hora.
– Procure grupos de apoio: Conviver com pessoas que também cuidam de outras que sofrem, ajuda muito. Nós sempre nos sentimos bem quando estamos com pessoas que vivem em uma realidade parecida com a nossa, pois nos identificamos com seus pensamentos, sentimentos e dificuldades. Escutar o sofrimento dos outros também ajuda no processo de lidar com a culpa. Falar sobre nossos próprios sofrimentos e dificuldades, organiza nosso cérebro e abre portas para novas perspectivas, soluções e possibilidades. Além disso, sentir-se acolhido e não julgado, é uma das maiores demonstrações de afeto, cuidado, carinho e respeito que podemos ter. Ás vezes é como “tirar a dor com a mão”.
– Desenvolva habilidades de ajuda efetivas: Uma das maiores preocupações da mãe que cuida do filho que sofre emocionalmente, é sobre como ela pode ajudá-lo. Como mães, possuímos diversas habilidades “intuitivas” de cuidado. Porém, dependendo do caso, elas podem não ser tão efetivas para ajudar o filho. Por esse motivo, procure sempre uma ajuda especializada. Esteja em constante contato com os profissionais que o acompanham e procure aprender com eles – ou por meio de indicações deles – habilidades que de fato auxiliem no tratamento do seu filho. Conhecer e aplicar estratégias efetivas no cuidado, podem proteger você de piorar o sofrimento dele, e consequentemente, o seu.